"Lembrando das palavras da Clarice, que aliás não me saem do pensamento, trago à lembrança um de seus contos mais intrigantes, daqueles que mexem com todos os seus sentimentos, que fazem as idéias intrínsecas e extrínsecas se confudirem, as emoções tornam-se latentes e diluem-se pelos poros, como quando Jesus suou gotas de sangue. É exatamente isso que Lispector provoca, com toda complexidade e intensidade que isso significa. Mas voltando ao conto, especificamente a Mineirinho, houve também na Contemporaneidade os vários disparos que marcaram a história. Mas dessa vez não houve a morte - pensei em escrever "homicídio", mas para a trama faz-se necessário o peso da palavra morte, a dor, a revolta, a impotência que ela gera e homicídio estilisticamente falando, é mais clássico e formalidade não soa bem para o que se pretende. Voltando ao ponto em que parei, dessa vez não houve a morte de um facínora. Nem revolta, nem covardia.. Dessa vez os disparos geraram vida. Eis que sete vezes o fogo foi a única luz diante da iminente escuridão.
O primeiro tiro foi o desabafo. Esteve contido nele todos os nós amargos do dia e por que não da sobrevida?
O segundo foi a adrenalina de estar no meio do nada. Proibidos. Não permitidos.
O terceiro foi a certeza. Realmente palavra de rei não volta atrás e disso vale-se dizer ao pé da letra.
O quarto tiro foi a concretização. Promessas deveras são feitas para serem cumpridas.
O quinto foi a paixão. Não pelo ser, mas pelo fazer, pela ação.
O sexto foi a síntese do que certamente não será mutilado da lembrança. O fato consumado não depende de circunstância para estar vivo.
O sétimo... Bem, o sétimo falhou, ou melhor, "picotou" por assim dizer.
O sétimo na verdade está selado. Sou eu, é você! É o pacto. O sétimo tiro é a força do que nos une. É a fuga do tempo. É a liberdade, o que nos traduz.
É o labirinto em que nos encontramos perdidos e é também a saída. É o ponto de partida que desconhecemos. É a fraqueza de não resistir e a culpa de sermos inocentes.
O sétimo tiro é o mistério. É a certeza de tudo o que não sabemos, mas sentimos. O sétimo é a única bala que nos acertou de uma só vez, matando-nos e trazendo-nos à vida."